quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Referência do Rato Saltitão pelo meu grande ídolo Gonçalo Cadilhe


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Valle Sagrado dos Incas

Vamos a caminho do Valle Sagrado dos Incas. Saindo de Cuzco subimos num misto de caracol em curva e contra curva, atravessando a primeira vaga de montanha...primeira descida e primeiro impacto... seja de que relegião for, seja de que nacionalidade for, qualquer pessoa chamaria de sagrado a este vale que me começa a encantar.
Verdadeiras fortalezas e cidades sempre com bases nas crenças incas surgem de quando em vez em complemento desta vista magnífica de vales e montanhas que a natureza se ocupou de nos criar e que neste momento me permite deliciar. Lugar privilegiado para vários tipos de cultura, tem condições geográficas e climáticas para ser considerado um belo cantinho do céu.
Quando Manco Cápac e Mama Ocllo, os filhos do Sol e da Lua encontraram este local enfiaram o cajado na terra e ele desapareceu, descobriram que estavam no sítio correcto para construir o seu império. Por mim, acho que não necessitaria do cajado...quem não gostaría de construir o seu império aqui.
Ao longo do trajecto, surge o rio Huatanay que desliza ao longo do vale e vai dando o ar da sua graça.






Em Pisac visitamos as ruínas. Enormes terraças agrícolas e longos caminhos Incas caracterizam estas ruínas, considerada uma das mais importantes. Do topo das ruínas conseguimos obter uma vista fantástica pelo vale. Aproveitamos para caminhar um pouco pelo caminhos Incas e disfrutar da paz e harmonia que este lugar tão singular nos oferece. Ainda se encontram algumas casas características da civilização Inca, construídas em pedra e mais recentemente em adobe e com o telhado em palha.
Como num top ten e saltando directamente para o considerado número 1, chegamos a Ollantaytambo.












Aqui as ruínas confundem-se com a cidade e é dos sítios onde a população local tenta preservar as tradições e preservar as suas raízes. Subo as ruínas desta enorme fortaleza que foi testemunha da maior vitória sobre os espanhóis. Sinto que, como português, este episódio da história e esta sensação não me é estranha de todo. Construído de pedras gigantes que foram transportadas até aqui desde umas montanhas adjacentes, pela força dos homens e usando a táctica da rampa para poder escalar até aqui ao topo donde me encontro. Deste preciso lugar observo também o caminho Inca que nos leva até Machu Picchu. Infelizmente não consegui vaga, pois o percurso é limitado, para poder percorrer este trilho que demoraria 4 dias até a jóia da coroa.
Mas se não é a pé poucas alternativas nos restam. Aqui encontra-se a penúltima estação de comboio antes da derradeira em Águas Calientes, paragem obrigatória antes da subida à cidade perdida.




Para que não me interpretem mal, paragem obrigatória porque não há realmente alternativa. Aqui existe a linha de comboio, hostels, restaurantes, mercearias, lojas de turismo e mercados onde abundam as lembranças, souvenirs ou recuerdos se preferirem. Sente-se já a aglomeração da selva e a paisagem verdejante é replecta de vegetação.



É impressionante como as coisas funcionam organizadamente em plena desorganização. Passo a explicar...quando compramos os bilhetes de ingresso não foi possível obter todos de uma vez. “Não se preocupem em Águas Calientes estará alguém entre as 7h e as 8h que vos dará o resto” dizia o Sr. Roque com quem tratamos das burocracias. Desconfiámos..mas na boa fé dos Incas arriscámos. Chegados ao hostel a primeira surpresa, depois de passar um grupo de pessoal que esperava por ter um quarto, a senhora da recepção, sem nada que prove, diz que está a nossa espera. Faltavam os bilhetes mas pelo menos alojamento já tínhamos. No átrio do hotel pergunto se alguém conhece Cosme Cuba, a pessoa que supostamente teria os meus bilhetes. De imediato entram em contacto e passado 10 min estavam a chamar por nós. “onde estão os bilhetes?”, pergunto “Não os tenho mas vou-vos levar a aguém que os tem!” Incrível! Uma rapariga finalmente nos entrega os bilhetes de ingresso. Mas, esperem! Que o do comboio para regressar teríamos que ir a um restaurante no dia a seguir entre as 15h e as 16h e lá estariam os nossos bilhetes.



No final tudo correu bem, e depois de um bife de Alpaca e uma Cuzquenha (cerveja peruana) está na hora do recolher. São 00h e o alarme está preparado para as 03h! Mais uma sesta, e em breve temos o grande dia!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Cuzco

Nesta manhã inesquecível proclamamos a frase que nos vai acompanhar por toda a viagem, e que tem tanto de crua como verdadeira: “Deixámos de dormir, passámos a bater sestas”.
Benvidos a cidade que foi a capital do Império Inca, benvindos à capital dos Andes, benvindos à auto-proclamada capital cultural da Latina América.
Cuzco (que significa umbigo do mundo em quechua) encontra-se a 3500m de altitude, bem no coração do planalto dos Andes. Como todos os comuns dos mortais como eu que vivem ao nível do mar, passo por um período de habituação devido ao chamado mal de altitude. Normalmente o cansaço e dores de cabeça são os sintomas mais habituais. Mas sinceramente, estou ainda tão zonzo que nem sei que mal hei-de chamar a isto... ficamos hospedados na Casa Familiar Ochoa, um sítio simpático e acolhedor onde à nossa espera está um bom maté de coca (chá de folhas de coca), que nos relaxa e ajuda a ambientar. Tratada a burocracia e com os bilhetes prontos iniciamos a decoberta da cidade, a descoberta desta mistura de incas com colonizadores. Ao redor da cidade encontram-se entre os melhores exemplos arquitectónicos desta civilização que durou pouco mais de 3 séculos(1200-1533) sendo exterminada pelos colonizadores espanhóis, que, por exemplo, como demostração do seu poder, construíam igrejas no topo dos templos incas.



Um bom exemplo disso é a exótica Catedral de Cuzco que fica na Plaza de Armas, com uma enorme imponência, rica em grandes obras da escola de artes cuzqueña, apresenta nas diferentes naves estilos que cruzam o gótico e numa perspectiva mais renascentista o barroco e o neogótico, prova que desde a construcção da primeira capela em 1539 houve a preocupação de ampliação e aplicação dos vários estilos da época. A mistura destes vários estilos e principalmente as influências da cultura inca nas várias obras católicas tornam esta catedral um sítio único.



Outro exemplo de católico sobre templos incas é o convento de Santa Catalina, que também recomendo a sua visita.



Mas deixando os catolicismos envergamos neste mundo desaparecido e perdemo-nos entre histórias de séculos e templos como Sacsayhuamán, que representava a cabeça do Puma (todas as cidades incas tinham a forma de um animal sagrado, e o Puma era o símbolo e guardião do mundo terrestre). Esta fortaleza com pedras enormes e bem polidas que se encaixam na perfeição faz-nos pensar como foi possível, sem o recurso a máquinas ou a qualquer objecto cortante nem sequer ao conhecimento da roda, transportar e construir tamanho exemplar.



Ainda tivemos tempo para visitar Tampumachay sítio de culto à água e ao descanso e Q’engo centro de culto à Pachamama (no quechua Pacha significa Universo, Mundo e Mama significa Mãe, Pachamama é a deusa que representa a fertilização e tudo de bom que cresce na terra).




Em todos estes lugares encontramos gente da terra a vender as mais variadas peças de artesanato carcterística deste recanto andino.




Pela noite é tempo de usufruir da gastronomia peruana. Deslocar-me em Cuzco é barato, com apenas 3 soles chegamos de taxi a qualquer parte da cidade, e qualquer carro pode ser um táxi, pois aqui não há taxímetros e tudo é negociável.
Ainda antes de regressar a casa e depois de mais uns Pisco Sour encontramos uma tuna a tocar em plena Plaza de Armas…”nem aqui nos livramos” pensámos nós! Mas venha daí a guitarra e vamos lá tentar tocar uma modinha para aquecer, em conjunto com a Tuna da Universidade de Iquique do Chile. Ups, venham é daí mais cinco, que eu pago já! Mas as cinco já lá foram e a manhã espera-nos com mais um dia de descobertas! É caso para dizer... deixámos de dormir, passámos a bater sestas!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Lima

Acordo com o mesmo ruído de fundo que adormeci.. os som dos carros a buzinar!
É impressionante o parque automóvel desta cidade. E ainda mais impressionante é pensar que 80% são taxis. Saio há descoberta pela porta do Hotel Gran Bolivar e estou em pleno centro histórico de Lima, na Plaza St. Martin. No centro a estátua de José de St. Martin, grande impulsionador da independência peruana. Curiosamente, hoje estão-se a fazer os preparativos dos festejos da independência que se celebra amanhã, dia 28 de Julho. O que por um lado é positivo, pois a cidade está mais limpa, enfeitada e arrumada, torna-se negativo na porta da Catedral de Lima, pois encontra-se encerrada para preparação da missa. A Catedral encontra-se na Plaza Mayor, sem dúvida, um oásis neste deserto arquitectónico que se estende pelos arredores da cidade. Considerada pela Unesco como património Mundial, era o centro da antiga cidade colonial. Além da catedral, encontra-se aqui o Palácio do Governo e do Munícipio que cercam uma fonte em bronze que fica bem no centro da Plaza, que é o monumento mais antigo por sinal.






Entro numa outra igreja, a Iglesia de San Pedro. Parei um pouco, respirei fundo, reflecti, observei. O culto da igreja continua com muito forte presença por toda a América Latina. No Perú não é excepção. Várias pessoas rezam pedindo a Deus e aos seus santos por um dia melhor, outras enchem os confessionários pedindo perdão por dias e actos menos bons. Eu, limito-me a viver o meu dia, e como uma das coisas mais importantes da vida é a amizade está na hora de ir receber o Zé que chega directo do Rio de Janeiro (inveja..ehehhhe).



É estranho dar de caras com um amigo a mais de 1000Km de distância, mas no bom sentido. Venha de lá esse abraço que temos o munco Inca à nossa espera. Visitámos a Igreja de S. Fancisco e as catacumbas onde estão enterradas milhares de caveiras e ossadas humanas. Era o antigo cemitério da cidade.



Com 20 soles pagamos o táxi até Miraflores, parte moderna da cidade cheia de shoppings, teatros, escritórios, etc. Nada disto me fazia mover tão longe, além do Parque Kennedy e as esplanadas em redor, algo mais grandioso nos esperava no final da avenida..e como Magalhães o baptizou, assim ele se apresenta calmo e sereno, em tons de azul escuro devido ao céu nublado de Lima, mas com a imponência e respeito de ser o maior entre os maiores. Cheira a mar e o vento traz notícias de terras longínquas com as ondas a anunciar a sua chegada a costa. E que bem que sabe especialmente com esta vista mirar até bem longe este maravilhoso Pacífico. Num parque bem no topo da encosta encontramos um parque que pretende ter um ar do parque Guell em Barcelona. Designado por parque del Amor faz jus ao nome pelas esculturas e frases escritas que tem e pelos namorados que se encontram em cada banco procurando a melhor vista, que poucos parques no mundo se podem gabar. E com um olhar mais atento, como que a dar as boas vindas à minha primeira visita ao Pacífico, descubro um grupo de golfinhos que se divertem e curtem uma de ondas. O resto do dia foi para aproveitar as gastronomias e festas nacionais, entre elas não podia faltar uma parrillada e uns bons pisco sour, a verdadeira bebida peruana. Quando voltamos ao hotel descobrimos que dentro de 3 horas tinhamos de abalar...está na hora de subir aos Andes.








PS:Ainda bem que a minha estadia em Lima não durou muito tempo..acho que em breve me ir dar mal por estas bandas...

domingo, 19 de setembro de 2010

Aveiro - Lima

Acordei. São 5 da manhã e aqui estou eu no conforto deste ninho que tão bem me tem acolhido. Mas chegou a hora, e, depois de anos espera, pesquisa e aprendizagem o sonho teimou em tornar-se realidade e tive de seguir os meus impulsos. Para muito me ajudou o meu amigo Zé, que, para além do verdadeiro espírito de companheiro de viagem, vive em Buenos Aires e decidiu pôr-se a caminho e fazer uma viagem pela América do Sul. Como amigo que sou, não podia deixá-lo divertir-se sozinho. Parto com nostalgia e com muito sono..de Aveiro para o Porto, do Porto para Madrid, com todas as confusões de trocas de terminais habituais em Barajas. 14 h de viagem, mas com muito pouco sacríficio. Aproveitei para descansar e ler um pouco..mas após 12h começa a minha viagem verdadeiramente..o avião avança a baixa altitude e lá em baixo um manto de imenso e denso verde rasgado por linhas aleatórias que parecem não ter fim, funcionando como veias que transportam o líquido que dá vida a todo este espectáculo que surge bem debaixo dos meus pés. Uma destas artérias evidencia-se pela grandeza e pelo percurso que vai tomando. É o rio Amazonas que cruza toda esta selva apelidada de pulmão do mundo. Estamos quase a chegar a Lima, e em grande contraste a melhor paisagem fica para o fim. Está um sol radiante e estamos a passar por cima dos Andes. Devido a uma das minhas últimas leituras, fico a sensação que percorro por via aérea terras que Frodo galgou carregando o seu precioso. A imponência de todos estes montes, criam vales e desfiladeiros entre as suas sombras, enquanto a luz se torna dourada ao cruzar-se entre picos.


Ao meu lado, irrequieta e ansiosa, está uma peruana, que podia bem ter saído de uma daquelas bandas de flautas de pan que se apresentam entre praças europeias. O traço peruano é muito característico e difícil de passar despercebido. Trabalha numa pastelaria em Barcelona e visita os pais de 2/3 anos. Li algures que os peruanos eram muito patriotas, mas ali tive a grande confirmação...ao passar a barreira das nuvens, com Lima e o Pacífico bem ao nosso alcance, ela chora com ganas de saltar e agarrar a sua terra, que, com todas as virtudes e defeitos que testemunharei, é o seu lar, é o seu berço e seu refúgio. Como a entendo...
Para testemunhar alguns dos defeitos deste país de 3 faixas (deserto na costa, montanhoso no meio e selva nas fronteiras) não demorou. Vou num táxi a 20min, ainda não andei um único Km e já tive a sensação que ia ter um acidente 5 vezes. Mas há que continuar no jogo e jogar com as regras da casa, que neste caso quase não existem. Que caos de tráfego. Lembrei-me que a 2ª circular e do IC19 afinal eram um paraíso. Depois de uma hora, milhares de buzinadelas, dezenas de cruzamentos sem semáforos, milhares de carros todos rebentados, na sua maioria táxis, e uma boa conversa com o taxista, descubro que estamos quase..Ainda há tempo para autocarros onde as pessoas se agitam na tentativa de encontrar o seu espaço, outras se penduram e outras mandam lixo pela janela. As que seguem no passeio caminham com a dificuldade do tráfego, convivendo com toda a poluição que corre no ar, outras procuram desesperadamente um meio de transporte livre (num país com salários tão baixos e com tanto desemprego é comum as pessoas terem de se deslocar em transportes públicos) e uma minoria assiste pávido e sereno a todo este caos, com toda a normalidade do dia-a-dia, onde há sempre espaço para um cigarrinho e pedir mais uma moeda.


Depois de me instalar decidi que ainda era cedo (a diferença horária entre o Perú e Portugal é de 6h) e como comida de avião é só para quem quer manter a sua silhueta percorro as ruas que albergam edifícios coloniais misturados com construcções mais recentes. Por falar em colonialismo, há influências que até calham muito bem, em especial quando se tem muita fome...que rico pollo peruano, ou como se diz na minha terra, frango de churrasco.
Acabo a minha Cristal, a verdadeira cerveja peruana, e reparo nas horas...estou acordado há mais de 24..está na hora de regressar!

sábado, 11 de setembro de 2010

Voltei Voltei!!!!!



ZZZZZ...ZZZZ…ZZZZZZZ!!!
PST..PST…epá acorda! Já não chega de dormir?



Ora aí está a expressão que mais se assemelha ao estado de alma daqueles que ainda me perguntam se o rato deixou de ser saltitão...ou se estava apenas a dormir. Pois bem, e para tirar algumas dúvidas que possam existir, o vosso amigo está bom de saúde e recomenda-se. (pouco convencido este gajo..ou este rato). Durante todo este interregno no reino da blogoesfera não se andou a dormir, nem a hibernar e muito menos se andou quieto. Pode-se justificar esta ausência por uma preguicite que me assola no momento da escrita, por um molho de palavras que tardam em organizar-se ou pelo problema global do tempo. Sim..este calha a todos. Mas, como para todos os problemas há uma solução, houve espaço para umas boas saltitadas que vou tentar retratar, alguns episódios únicas que vou tentar transmitir. Desde descobertas e revivências nacionais como os parques nacionais da Arrábida e Montesinho, desde a costa alentejana até a Figueira da Foz, passando alguns meses pela nossa capital e pela imensidão do grande Alqueva e das vastas terras do interior alentejano, até a aventuras mais longínquas pelos canais de Amesterdão, a uma feira de Natal em Frankfurt, gelando num zoo de animais selvagens nórdicos na Finlândia e sentindo os contrastes de Granada e a Serra Nevada em Espanha e acabando com as aventuras além fronteiras europeias em Marrocos, nas praias de Pipa e Natal lá no calor do nordeste brasileiro, e culminando por mais um grande objectivo cumprido por terras altas e andinas, passou-se mais um ciclo, neste caso mudo, de encontros e desencontros.
Mas como em qualquer máquina, é necessário que haja um impulso de arranque para que as coisas tornem a rolar. Seguindo a analogia da mecânica e depois de olear bem todos os carretos surgiu esta viagem que funcionou como combustível para mais umas saltitadas que merecem ser transmitidas.



Neste caso e num novo formato, a pedido de várias famílias e para recomeçar em grande, transmitirei o diário de bordo que foi escrito durante 3 semanas de pura interacção, onde a magia única da América Latina me enfeitiçou e e fez-me desaparecer de um mundo chamado real e que me mostrou, aí sim, realidades que da mesma forma que nos fazem sentir mais humanos, traz ao de cima a animalidade e o confundir com a natureza, mostrando quão frágeis e pequenos somos neste universo terrestre que sonho em conquistar.

Estão todos convidados a embarcar comigo neste percurso entre Lima e Buenos Aires, que inclui cerca de 2000 Km de avião, 5000 Km de autocarro desde o luxuoso ao que demorava a arrancar, 1000 Km de Jeep e os restantes 2000 distribuídos entre táxis, barcos, comboios, funiculares, e muitos, muitos kilómetros a pé, muitos deles com toda a nossa mercadoria às costas. É a saga do mochileiro, do aventureiro, de quem procura experiências e não luxúria, de quem procura realidades e não tranformações de quem vive na adrenalina e é dependente do risco.
Mochila às costas, passaporte no bolso e dinheiro no outro, vamos daí levantar as vossas almas do sofá e percorrer comigo este dia-a-dia de pura abstracção e meditação, onde uma amizade ganhou mais umas raízes e a solidão teve pouco espaço, graças ao nosso companheiro Zé.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Entre o Minho e Trás-os-Montes

Com a passagem dos tempos o significado de certas coisas vai variando, pelo menos acontece muito comigo. As manhãs são um dos maiores exemplos disso mesmo, especialmente durante a semana. O nascer do sol, em tempos era visto como uma boa altura para ir para casa, sem antes passar pela pastelaria ou pela Tia Alice (quem percebe isto sabe o grande valor sentimental de uma sopinha daquelas com um verdadeiro panado). Hoje em dia, quando vejo o sol pela manhã, e se por acaso estou numa pastelaria, a ânsia é completamente diferente, porque o que eram a seguir oito horinhas de sono, passam agora a ser oito horas de trabalho, no mínimo. Mas nem tudo são pedras soltas num poço fundo, pois o ritmo semanal pode dar a oportunidade de, sem nos apercebermos estarmos acordados numa manhã de fim de semana, e sinceramente, que bem que sabe aproveitar uma bela manhã, solareira de preferência, para fazer o que mais se gosta. No meu caso e entre outras coisas aliei o meu gosto de viajar ao da natureza e rumei em direcção a um dos meus sítios preferidos para disfrutar desta aliança... A zona entre o Minho e Trás-os-Montes.
A primeira paragem foi em Fafião, freguesia de Cabril no Concelho de Montalegre. Aqui existe um trilho de construcção popular, que supostamente me levaria a usufruir da bela paisagem da peneda do Gerês. O supostamente claro, não coloca em dúvida a paisagem, mas sim o trilho, pois o que estava definido como indicador do percurso eram mariolas, mas destas nem vê-las, e acabei por criar o meu próprio percurso, o que me levou talvez a disfrutar, nem que seja da liberdade em escolher o roteiro. Por entre aldeias de pedra, antigos moinhos e lagares de azeite, ribeiros bravos e a paisagem sempre verdejante, caminhei sem destino, respirei bem fundo o ar puro que tão poucas vezes é usufruído, parei para observar, admirar e escutar...ou melhor por vezes e em certas partes o bom era mesmo não escutar, pois neste dia até a brisa falava baixinho.







Voltando à estrada, mas agora com todas as comodidades que o carro pode dar, ou não, vou até à capital do concelho para bem lá do alto junto às muralhas do castelo, ver o sol que acordou transmontano esconder-se no horizonte e adormecer minhoto. Nada extraordinário por estas bandas, pois o êxodo continua aqui bem patente, e por Portugal e por este mundo fora é com naturalidade que se encontra mais um transmontano. Que injusta e por vezes sem sentido é esta vida..vive-se sempre em busca de um bem-estar melhor, deixando por vezes lugares que acolhem os melhores bem-estares que se pode ter na vida!
O castelo de Montalegre, reza a história foi construído por cima de fortalezas romanas que por sua vez foram construídas onde se encontrava um castro do neolítico. Com esta descrição percebe-se a importância histórica mas também estratégica que este lugar teve ao longo dos séculos, e onde hoje não passa de um lugar de visita, onde se pode admirar, na minha opinião, um dos mais belos castelos de Portugal. Quem sabe, se um dia, não voltará a tomar a importância que teve no passado...







Segunda manhã, segunda manhã de sol, segunda manhã de sol que aproveito, segunda manhã de sol que aproveito mas desta vez bem no centro do Minho, na histórica e acolhedora Ponte da Barca, terra, mas não natal, do meu colega Jorge Barcas.. Jorge de Jorge, Barcas da Barca. E o que no início era para mim apenas a alcunha de um colega, passou a ser um dos meus lugares de eleição de passagem aquando das minhas visitas ao verde minho. Há quem diga também que Fernão de Magalhães cresceu por aqui, mas esta Barca não entrou pelo Pacífico nem deu a volta ao Mundo, apenas se limitava a fazer a ligação que era dividida pelo rio Lima. Até que chegou a famosa ponte datada do séc. XV e a união criou a passagem tão esperada mas também o nome de S. João da Ponte da Barca. Pelos vistos o S. João caíu algures na história, mas a Ponte essa continua e sem nunca se separar da Barca. Para além da ponte, as várias construcções feitas em granito, com os paços do concelho e o pelourinho a ver passar o Lima, a bonita igreja matriz, de S. João claro está, mais no alto, com a serra a fazer de pano fundo criam um verdadeiro postal de Portugal, e criam também um conjunto perfeito para um bom passeio a pé, pois só assim se pode admirar a beleza e tranquilidade que reluz nesta vila minhota.








O moinho concebido com o intuito de transformar o cereal em farinha, foi mais tarde aproveitado para criar energia...Pois vos digo, foi peça chave para renovar a minha! Passando a explicar, bem perto do rio existe um restaurante que se recomenda, e como os sabores da terra têm sempre prioridade, nada melhor que uma boa posta de carne barrosã assada na brasa, acompanhada por um bom verde tinto, bem fresquinho! Essa casa chama-se O Moinho! Pronto e mais não digo, porque depois deste almocinho estou mesmo pronto é...para dormir uma sesta!